terça-feira, 30 de maio de 2017

Leptophis ahaetulla

Agosto/16, amarrei o barco no primeiro arbusto acessível do lago Mamirauá e um dos guias locais começou a palestra. Eu geralmente só interrompia se passasse um bando de araras ou pra traduzir aquelas gírias maravilhosas do amazonês-de-beira-de-rio pro 'português', e daí pro inglês, que afinal é língua de 70% dos turistas que vão à Pousada Uacari. O papo ia longe quando fui despertado de uma longa explanação, totalmente concentrado que estava em traduzir coisas como "boiou o macaco" ou "olho da samaúma": lá da popa, do outro lado do canoão, a resenha comia solta, os guias se matavam de rir e já tavam pra cair no lago.

Parêntese: os guias locais são ribeirinhos, em sua maioria moleques com menos de 25 anos, cuja rotina de trabalho se alterna entre achar animais invisíveis ao olho humano literalmente através de um emaranhado de folhas e galhos, como se fossem meros elefantes em uma savana, com a arte de zoar os gringos - pela cor, pelo cabelo, pelo sotaque, pelo medo de absolutamente tudo que se move ou simplesmente pela cara de gringo que os gringos têm.

Naturalmente supus do que se tratava e até já guardava umas três histórias daquele passeio pra resenha da noite, quando os turistas dormem e todo mundo se amontoa em redes nos fundos da pousada. Mandei calarem a boca e tentei continuar, uma, duas, três vezes, sem sucesso. Ajoelhado na extremidade da proa e virado pra trás eu via todos os 20 turistas e guias distribuídos nas duas canoas emparelhadas e a essa altura a risada já tinha contagiado metade do grupo. Uns comentários em línguas que eu não faço a menor ideia e dedos apontando pro meu ombro direito denunciaram que eles riam em minha direção. Congelei por um instante e me virei, lentamente.

Depois daqueles 2 segundos intermináveis que você leva pra ver um animal amazônico e sua inacreditável camuflagem de folha, ou de galho, ou de ambos, focalizei essa criatura magnífica me encarando, assim, de soslaio, a menos de três palmos de distância. Me esforçando pra manter a postura de biólogo-indiana-jones que a gente espera do nosso guia naturalista amazônico e tentando não recuar mais que os mínimos 10 cm esperados de um ser humano nessa situação, soltei algum palavrão em português que fez a gringaiada desabar a rir. Os moleques já se contorciam, olhavam pros gringos e confirmavam "isneik, isneik" antes de voltar a gargalhar. Uma terceira parte do trabalho deles era rir da minha cara - pra eles, tão gringa quanto qualquer outra - além de xingar o Lucas Pratto e o Robinho só pra me ver chamar pra briga.

Leptophis ahaetulla, cobra-cipó ou cobra-papagaio, no Lago Mamirauá, Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá/AM
Paramos pra sessão de fotos da cobra-papagaio e seguimos a palestra, que se emendou a uma revoada de garças, a uma perseguição de botos cor de rosa e à fuga dos macacos brancos de cara vermelha. Foi a quinta ou sexta semana seguida que o sol se pôs e o excesso de vida amazônica não deixou a gente cobrir nem metade do trajeto planejado...

Postado originalmente no Facebook

terça-feira, 2 de maio de 2017

SP tem mais dinheiro pro meio ambiente que o Brasil

Do Observatório do Clima: "O orçamento do Ministério do Meio Ambiente (MMA) foi contingenciado em 51%, de R$ 911 milhões pra R$ 446 milhões."

Do ClimaInfo: "O secretário ruralista do Meio Ambiente [de São Paulo], Ricardo Salles, alega que as áreas [de floresta que o estado quer abrir para concessão] estão dando um déficit anual de R$ 48 milhões enquanto o orçamento da sua secretaria para este ano é de R$ 1,15 bilhões."

Sim, amigos. O orçamento do Ministério do Meio Ambiente da República Federativa do Brasil é menor que o orçamento da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

Postada originalmente no Facebook